Na última sexta-feira (11), uma operação da Polícia Civil do Pará, conhecida como “Fortis Status”, resultou em graves acusações por parte de movimentos sociais que denunciam mortes, tortura e tentativa de assassinato contra trabalhadores rurais. O conflito ocorreu na fazenda Mutamba, situada em Marabá, sudeste do estado, e é parte de uma disputa agrária envolvendo cerca de 200 famílias sem-terra.
A operação, conduzida pela Delegacia Especializada em Conflitos Agrários de Marabá (Deca), deixou dois mortos – Adão Rodrigues de Sousa e Edson Silva e Silva –, além de feridos e quatro prisões efetuadas. De acordo com a nota da Polícia Civil, as vítimas teriam morrido após “entrarem em confronto com a polícia”. As prisões foram justificadas com base na suspeita de associação criminosa e porte ilegal de armas.
No entanto, movimentos sociais, incluindo a Comissão Pastoral da Terra (CPT), afirmam que os dois homens assassinados estavam dormindo em um barracão coletivo, junto com outros 16 trabalhadores, quando foram surpreendidos pelos policiais. “Rajadas de tiros naquela hora da madrugada e na escuridão, não houve qualquer chance de se defenderem”, diz a nota divulgada pelos grupos. A nota também afirma que os homens não tinham antecedentes criminais ou mandados de prisão.
A versão da Polícia Civil descreve um cenário em que os policiais foram recebidos por 13 homens fortemente armados, o que resultou em um confronto. Já os movimentos sociais contestam, afirmando que não havia “nenhuma arma pesada” no local.
A denúncia também aponta tortura durante a operação. Em um dos barracões, segundo o relato, um jovem teria sido ameaçado com uma faca no pescoço para revelar o paradeiro do coordenador do grupo. A nota também afirma que os quatro detidos foram forçados a confessar sob coerção, e a comprovação das torturas estaria documentada em exames de corpo de delito.
Em contrapartida, o delegado-geral da Polícia, Walter Resende, refutou as acusações, afirmando que os presos faziam parte de atividades criminosas investigadas.
A Defensoria Pública do Estado do Pará (DPE) esteve no local após o incidente e, em documento enviado à 2° Vara Criminal de Marabá, mencionou que cinco trabalhadores rurais teriam sido mortos enquanto dormiam, informação ainda não confirmada pela polícia, que até o momento reconhece apenas as mortes de Adão Rodrigues de Sousa e Edson Silva e Silva.
A DPE relatou ainda que as famílias alegaram excessos por parte da polícia e ressaltou que na área vivem mulheres e crianças. A Defensoria solicitou à Justiça a suspensão imediata da operação, anteriormente autorizada pela juíza Alessandra Rocha da Silva Souza.
A fazenda Mutamba, onde ocorreu o conflito, pertence à família Mutran e possui um histórico de disputas agrárias e denúncias de trabalho escravo. Em 2002, 25 trabalhadores foram libertados da fazenda. Dois anos depois, uma empresa da família foi incluída na “lista suja” do trabalho escravo, resultando em uma multa de R$ 1,3 milhão por dano moral coletivo, o maior valor já pago no Brasil por caso semelhante.
O conflito atual, envolvendo a ocupação por famílias sem-terra, segue sem solução, com a Defensoria Pública e os movimentos sociais cobrando justiça e o respeito aos direitos humanos dos trabalhadores rurais. Até o fechamento desta matéria, as autoridades policiais não haviam respondido às acusações de tortura e assassinato.
Com informações do Portal G1
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