Gravataí, RS — A cidade de Gravataí, no Rio Grande do Sul, tornou-se palco de uma intensa disputa legal e social envolvendo a seita satanista Nova Ordem de Lúcifer na Terra (NOLT) e a administração municipal. O centro do conflito é um santuário criado pela seita na zona rural do município, onde uma estátua de cinco metros de Lúcifer foi erguida para os cultos. O local, entretanto, enfrenta forte oposição da prefeitura, que busca impedir sua regularização e funcionamento.
O Brasil, sendo um país de maioria cristã, enfrenta desafios únicos quando se trata da convivência entre diferentes crenças religiosas. A imagem de Lúcifer, central nos rituais da NOLT, representa para muitos cristãos uma afronta direta aos ensinamentos religiosos, simbolizando a adoração de algo que é amplamente repudiado na tradição cristã. Este é possivelmente um dos principais motivos por trás do impasse que está ocorrendo em Gravataí, onde a tensão entre a população local e os membros da seita tem aumentado.
Apesar da predominância cristã no país, o Brasil é constitucionalmente um Estado laico, o que significa que o governo deve adotar uma posição neutra no campo religioso, buscando a imparcialidade em questões de fé e não apoiando ou discriminando qualquer religião. Este princípio constitucional coloca as autoridades em uma posição delicada ao lidar com o caso, já que precisam equilibrar as preocupações da maioria religiosa com os direitos de grupos minoritários, como a NOLT.
A NOLT, liderada por Tata Hélio De Astaroth e Mestre Lukas, tem atraído atenção nas redes sociais, com quase 10 mil seguidores no Instagram. A notoriedade do grupo aumentou quando tentaram inaugurar o santuário, mas foram barrados por uma liminar obtida pela prefeitura de Gravataí. Em resposta, os líderes da seita publicaram um vídeo nas redes sociais, gravado na propriedade privada onde está a estátua, denunciando o que classificam como “intolerância religiosa”.
Na gravação, Tata Hélio e Mestre Lukas, figuras centrais na organização do culto satanista, afirmaram que continuarão a lutar pela legalização de suas práticas religiosas. “Senhor Lúcifer está com a gente e vamos para esse embate”, declararam, ressaltando que a suspensão da inauguração foi fruto de preconceito religioso.
A decisão judicial que impediu a inauguração foi emitida pela 4ª Vara Cível Especializada em Fazenda Pública da Comarca de Gravataí, em resposta a um pedido da prefeitura. A administração municipal alega que a presença do santuário e a realização dos cultos podem causar distúrbios na comunidade local e que a prática religiosa do grupo não está em conformidade com as regulamentações urbanísticas da cidade.
Por outro lado, os líderes da NOLT argumentam que estão sendo alvo de perseguição religiosa e que têm o direito constitucional de praticar sua fé. Lucas Martins, conhecido como Mestre Lukas de Bará, tem se destacado como o porta-voz da seita. Além de sua atuação religiosa, Martins também é empresário, gerenciando uma produtora de eventos e duas casas noturnas em Gravataí.
O impasse tem gerado debates acalorados na cidade, envolvendo questões de liberdade religiosa, segurança pública e ordenamento urbano. Enquanto a seita continua sua batalha legal para obter um alvará, a prefeitura mantém sua posição firme em impedir a oficialização dos cultos no santuário.
O caso, que ainda está em tramitação, pode estabelecer um precedente importante para a discussão sobre a liberdade de culto e os limites do poder público na regulamentação de práticas religiosas no Brasil. Para os cristãos, a presença de um santuário satanista na cidade representa uma provocação direta, alimentando ainda mais o conflito entre as tradições religiosas majoritárias e as práticas da NOLT. No entanto, o Estado laico exige que as autoridades tratem todas as religiões de forma imparcial, o que torna o desenlace desse conflito um tema de grande relevância para a sociedade brasileira.
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